Ele possuía um vazio na alma que o seguia aonde ia. Com uma ânsia, ele seguia sua vida rotineira. Trabalhava nove horas por dia no escritório, era um excelente funcionário. Pagava suas contas muito bem. Tinha família, alguns poucos amigos. Mas aquele vazio o estava matando.
Foi aí que planejou seu primeiro assassinato. Comprou um passarinho numa loja de animais e o soltou dentro do apartamento para ele se adaptar. Por um mês botou ração todos os dias, água e limpou seus excrementos. Em seguida comprou um gato, o qual deu o nome de killer, mas tomou cuidado para colocá-los em ambientes diferentes. Por último veio o cachorro, com quem brincava agressivamente com restos de carne no fundo da lavanderia.
Quatro meses se passaram com cada animal isolado em seu quarto até que, numa sexta feira, depois de chegar em casa... Sua tia o foi visitar. Levou rosquinhas caseiras de aveia, falou que estava muito magro e pálido. Brincou com cada um dos animais. Acabado os biscoitos, deu um beijo em sua testa e antes de ir embora ajeitou seu cabelo perguntando sobre as ‘’meninas’’, se tinha alguma em vista e por fim foi embora.
Quando se despediu, a euforia tomou conta e foi correndo soltar os bichos. Nesse momento tocou a campainha. Uma vizinha, que mexendo muito o cabelo e rindo nervosamente, disse que estava fazendo uma festinha no apartamento do lado e perguntou se ele queria aparecer mais tarde. Se livrou rapidamente da vizinha e voltou à cena do crime.
Primeiro soltou o passarinho, que voou desesperadamente pela sala. Depois abriu o quarto do gato que tentou de toda forma pegar o passarinho. Mas o circo pegou fogo quando do fundo da área de serviço foi solto da coleira o cachorro, que foi correndo como um louco para atacar o gato e o passarinho.
Após algumas horas, os três animais brincavam pela sala como uma verdadeira família. O cachorro com o gato, o gato com o cachorro e o passarinho passeava no meio dos dois como um velho irmão ali pela sala. Pasmo pensou que alguma coisa estava errada. Como crianças já cansadas, dormiram os três, um encostado no outro ali mesmo na sala depois daquela farra na casa dele, o dono de cada um dos animais de estimação que ali estavam depois daquele encontro tão bem sucedido por seu dono.
Algo de estranho tinha naqueles animais pensou o homem. Talvez fosse um erro deixá-los tanto tempo juntos no mesmo apartamento... O homem não parava de pensar. Depois de sua festa diabólica frustrada, foi para cama. Ainda atordoado, teve um sonho estranho, com a vizinha que o convidou naquela noite para uma festa... Seus cabelos, seu sorriso, aquilo mexeu com sua imaginação. Embalado pelo sonho só se viu uma ponta de sorriso no quarto escuro. Matar a vizinha talvez fosse uma boa idéia.
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